04/06/19

Os Livros

Não ha n'este mundo cousa alguma de mais suavidade para a minha vida do que os livros. Consoladores, mansos companheiros, é a alegria tel-os a meu lado, folheal-os, manuseal-os, vêl-os simplesmente; são necessidade para o espirito e, direi, quasi necessidade para os meus sentidos. Casa onde não os veja, está incompleta; dia em que não os leio, foi da maior fadiga. Ficou-me a sensação de falta essencial, exactamente como se tivésse soffrido fome ou sêde.
Depois, sou glutão. Quero muitos; quero, ao sabor do meu capricho, ter sempre á mão, ou uma obra de arte, ou um livro de sciencia, ou de história, ou de viagens, moralistas, romancistas, ou ainda mesmo puras bagatellas. Ha dias em que a Historia natural para creanças, de Prang, e as Aventuras do barão de Munckhausen me interessam tanto como Tolstoi, Ruskin ou os mais deliciosos chronistas portuguezes. Tudo depende da inclinação momentanea.
Ás vezes, porém, considero se isto não será vicio, talvez nocivo, contra o qual devo acautelar os estranhos, já que de mim não cuido, por me julgar incorrigivel....

Lima, Jayme de Magalhães, Vozes do meu lar. Coimbra, Typ. França Amado, 1902, 
p. 21-22.

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