21/03/22

Dia Mundial da Poesia

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O Teatro das cidades

Qualquer tempo é um tempo duvidoso
assim o meu cercado de cidades
plataformas instáveis
praticáveis cobertos de infinita gente náufraga
que se inclina nas águas como um palco

Paro na convergência dos estrados
chove já sobre a raça ameaçada
Incertas multidões em volta passam
contemporâneas falam interpretam
a duvidosa língua das imagens

Assim no teatro abstracto das cidades
morrem palavras sobre um palco náufrago

O tempo cobre o céu que se enche de água

In Gastão Cruz, O pianista, Editora Limiar, 1984, p. 32.


O Poeta Gastão Cruz (1941-2022), faleceu ontem, em Lisboa, aos 80 anos.
Natural de Faro, onde nasceu em 20 de Julho de 1941, publicou o primeiro livro, 
A Morte Percutiva, em 1961, com perto de 20 anos. Escreveu para os Cadernos do Meio-Dia, publicados em Faro, sob a direção de António Ramos Rosa e Casimiro de Brito, lançados em 1958 e que a ditadura havia de encerrar dois anos mais tarde. Foi um dos fundadores do grupo Teatro Hoje.

Foi também um dos organizadores da Antologia de Poesia Universitária, em 1964, que deu a conhecer autores como Manuel Alegre, Eduardo Prado Coelho, António Torrado, José Carlos Vasconcelos, Luísa Ducla Soares e Boaventura Sousa Santos, entre muitos outros.
Publicou cerca de 20 livros de poesia; um volume de ensaios - A Poesia Portuguesa Hoje (1973) e em 2009 uma colectânea dos seus poemas - Os Poemas.

Ao longo da carreira, recebeu diversos Prémios, entre eles, o Prémio D. Diniz, em 2000, pelo livro "Crateras", o Prémio do P.E.N. Clube Português de Poesia, em 1985, 2007 e 2014, respetivamente, pelas obras "O Pianista", "A Moeda do Tempo" e "Fogo", o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 2002, pela obra "Rua de Portugal", e ainda o Grande Prémio de Literatura DST, em 2005, por "Repercussão", e o Prémio Literário Correntes d'Escritas/Casino da Póvoa, em 2009, por "A Moeda do Tempo". (Ler mais)

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