16/11/21

José Saramago (1922-2010), nasceu há 99 anos
    

"Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa.
(...) Só aos sete anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal." (daqui)



Lisboa, 16 de Setembro de 1960

Meu querido Amigo, 

 Tantas vezes tenho prometido correspondência assídua e pontual, que já me envergonho de outras tantas ter de proferir o «mea culpa, mea maxima culpa»... Verdade seja que melhor diria «nostra culpa», porque nestes azares de correspondência todos somos cúmplices. Agora talvez seja eu o mais inocente, porque estive de férias, alheio tanto quanto possível à editora e às coisas sérias deste mundo: nestas ocasiões faço o que posso para me afundar no paradisíaco estado de bruteza em que viveu nosso pai Adão... (p. 62) 
                                              José Saramago 


Lisboa, 17 de Junho de 1969 

Meu querido Amigo: 

 Estou na situação do banhista diante da água fria: meto o pé a medo, recolho o pé... Por fim, atiro-me à onda, de uma vez, que já toda a gente está a olhar para mim... Como é que lhe hei-de explicar? Tive alguns azares, mas todos os dias entrei e saí da editora, e entre o entrar e o sair, necessariamente fiz coisas. Fiz coisas - mas não lhe escrevi a si. Cartas e cartas suas, cada vez mais inquietas, e eu mudo, e nós quedos. A regra é que sempre que nos atrasamos em contas, caímos em má consciência e silêncio. Não é boa atitude, mas já a tomámos tantas vezes, que até se tornou fácil desculpa para o que não pode ter desculpa: a falta de atenção do editor para o escritor que lhe confia os livros. E, contudo, eu sei que não há tal falta de atenção. Simplesmente, a mulher de César, além de honesta, tem de parecer honesta. E nós não parecemos «honestos»... A ver se isto muda, e lhe damos a assistência devida! (p. 262) 
                                                                                               José Saramago


Nota: A partir dos anos 50, José Saramago passou a ser o responsável pela produção na Editora Estúdios Cor, como ele próprio explica: 
"No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade permitiu-me conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes escritores portugueses de então." (daqui)

2 comentários:

  1. Muito obrigada, Cláudia, por lembrar aqui hoje o José Saramago, um escritor e um homem que muito admiro.
    Sem estar anunciado, foi por acaso que vi às 20.00h na rtp3, o documentário de 2008 "Levantado do Chão".
    E mais uma vez me comovi com a sua história de vida: que homem extraordinário!
    (Consigo imaginar alguns sorrisinhos... mas quem o leu de verdade sabe do que estou a falar).
    🤗Um abraço de boa noite!

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    1. Bom dia, Maria!
      Era imperativo que o fizesse e por vários motivos.
      Porque José Saramago merece ser lembrado pela qualidade da obra que nos deixou; por ser o nosso Prémio Nobel e por ser um escritor que admiro e gosto.
      Quanto aos sorrisinhos, não se pode agradar a todos! Mas, os que gostam, gostam mesmo; independentemente das ideologias políticas!
      Um abraço e resto de boa semana.:)

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