Miguel Torga, pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha,
nasceu há 117 anos
Biografia
Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
in Miguel Torga, Orfeu Rebelde. Coimbra, 1970, pp. 54-55.
Para assinalar a efeméride, Elsa Ligeiro da Editora Alma Azul, vai estar hoje em Coimbra para prestar homenagem ao autor de "Bichos" e "Contos da Montanha". Cidade, onde Elsa Ligeiro teve o privilégio de conhecer o médico Adolfo Correia Rocha e de com ele conversar. E, de como o médico, com delicadeza lhe recusou uma dedicatória. Como se pode ler no seu mais recente ensaio "Eugénio de Andrade - Da Beira Baixa ao Porto", p. 37.
ResponderEliminarNunca me esqueço de Miguel Torga e de como fui a São Leonardo da Galafura por causa dele.
ResponderEliminarConheço bem Elsa Ligeiro, com ela fiz muitas sessões de poesia, muitas viagens com escritores, foi com ela que conheci Eugénio de Andrade, por exemplo.
Uma grande mulher, que a Câmara de Castelo Branco, vá-se lá saber porque, insiste em não apoiar...
Bom dia/Boa semana!
Um abraço 📚🌷
Este querido corrector, que eu adoro, tirou o chapelinho do porquê...
EliminarMaria,
EliminarConheci pessoalmente Elsa Ligeiro, quando a Lumière participou, em 2012, na Feira do Livro de Coimbra. Sempre lhe admirei o dinamismo e o quanto tem feito pela divulgação da literatura e de certos escritores, nomeadamente Eugénio de Andrade. Neste seu ensaio, faz referência a uma viagem que realizou com um grupo, de Póvoa de Atalaia (local onde o escritor nasceu) até à Foz do Douro (Porto), para o cumprimentar, na Fundação a ele dedicada (p. 12 a 17). E, que foi na Quinta de Vitorino Nemésio, no Tovim, que Eugénio de Andrade terá conhecido Miguel Torga (p. 44).
Sim, é de lamentar, que as autarquias não apoiem quem realmente gosta e divulga a obra, neste caso, dos escritores. E, Elsa Ligeiro bem o merece!
Maria, um abraço e uma excelente semana!
Eu fui nessa viagem, em Junho/2002. Saímos de Castelo Branco, estivemos na Póvoa da Atalaia, na casa onde Eugénio nasceu e seguimos para a Fundação na Foz do Douro, onde tínhamos marcação para as15h.
EliminarAinda aproveitámos para ir à Praia da Granja celebrar Sophia e a Menina do Mar - a Elsa tinha sempre montes de ideias.
Nessa altura a câmara fornecia o autocarro e motorista.
Foi um dia inesquecível!
Um abraço 🤗
Maria,
EliminarClaro, só pode ter regressado a casa com o coração cheio! Inesquecível, sem dúvida!
Vai gostar de ler este livro-ensaio!
Um abraço! 🌼
Gosto bastante de Miguel Torga. Ele não dava autógrafos. Coisas...
ResponderEliminarOuvi uma vez Saramago dizer a umas pessoas que lhe pediram um autógrafo que um dia seriam mais valiosos os livros dele sem autógrafo. 😂😂😂 Tantos eram os autógrafos que dava.
Boa semana!
MR,
EliminarManeiras de ser (opostas)... Já me passaram pelas mãos, alguns livros de Saramago com dedicatória.
Uma excelente semana!
Muito bonito este poema, que não me lembro de alguma vez ter lido.
ResponderEliminarBoa semana:))
Obrigada, Isabel!
EliminarNão sei se o poema consta de alguma Antologia ou apenas nestas edições mais antigas.
Um beijinho, boa semana e boas leituras! 😘🌼📚
É inquestionável: Miguel TORGA não precisou do prestigioso Prémio NOBEL para (re)afirmar o sentido universal que marca o génio intemporal dos autênticos escritores!...
ResponderEliminarCom justificada frequência, regresso, naturalmente, às páginas admiráveis do Autor de "Orfeu Rebelde", "Poemas Ibéricos", "Bichos", "Contos da Montanha", "Diário" e outros títulos emblemáticos, que (também) amou Coimbra e o seu microcosmos humanístico.
Não foi, pois, por casualidade que, no seu precioso "Portugal" [6.ª ed., 1993, pp. 89-90), um volume de leitura obrigatória, oportuna e justamente citado por ELSA Ligeiro, dinâmica Editora (Alma Azul), na sua marcante "Revista de Artes e Ideias", uma edição [n.º 7, p.19] especialmente consagrada à Lusa Atenas, o insigne Poeta, contista e diarista reconheceu que, de facto, "foi de Coimbra que saíram Camões, Garrett, Antero, Eça, António Nobre, e outros"; e que, no entanto, "o Penedo da Meditação, a Lapa dos Esteios, o Jardim Botânico e o Parque de Santa Cruz vivem perpetuamente num banho-maria nostálgico que, sendo uma realidade física local, é simultaneamente a atmosfera mental do português"...
Às vezes, interrogo-me sobre o que escreveria o distinto clínico e activo Cidadão, nas suas lúcidas e corajosas reflexões éticas, se agora visitasse a "Baixa" Conimbricense, "a certas horas do dia e da noite"!...
Prezado Fernando Firmino,
EliminarÉ verdade! Miguel Torga ficou nas letras pela qualidade da sua escrita. Pelo seu valor humano e ético. Pelo seu inconformismo e verticalidade. Apesar do seu nome ter sido proposto para o Prémio Nobel, tal nunca se verificou, mas ganhou muitos outros prémios de relevo e a sua obra está traduzida em diversas línguas.