À noite, no refúgio que me faço
Num mar de nuvens me descubro imerso,
Digo palavras tantas pelo espaço
E de cada palavra nasce um verso.
Se um braço estendo, já não é meu braço,
É qualquer coisa solta no universo;
Se me quero mover me despedaço
E em mim mesmo ficando estou disperso.
Surpreso, volto ao natural de em torno:
No quarto claro a luz me acaricia,
Tudo tem sua forma e seu contorno.
Daquele mar nocturno enfim liberto,
Deste, na praia ao sol vem a alegria,
Posso nele saltar de peito aberto.
Ribeiro Couto, Longe, p.133
Sem comentários:
Enviar um comentário