12/08/16

MEMORANDO 

Senhor:
Se o meu tempo é de campos de concentração,
De bombas de hidrogénio e de maldição,
E de cruéis tiranos
Com pêlos nos ouvidos e no coração,
Que ando eu a fazer aqui,
Funâmbulo de angústia
Com miragens de esperança?
Pois que não há lugar neste universo imundo
Para bucólicos prados de trigo e calhandras,
E foguetes festivos,
E chefes que eu eleja e destitua,
Corta lá no canhenho do destino
A humana condição de ser poeta!
Sinto em nome de todos aqueles que se calam
As vergastadas de absurdo e medo
Que consentes na alma dos mortais.
E como nada posso, senão isto:
Protestar, protestar,

(...)

Miguel Torga 

Celebra-se hoje o 109.º aniversário do nascimento de Miguel Torga.

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