"Nunca senti saudades da infância; nunca senti, em verdade, saudades de
nada. Sou, por índole, e no sentido directo da palavra, futurista. Não
sei ter pessimismo, nem olhar para traz. Que eu saiba ou repare, só a
falta de dinheiro (no próprio momento) ou um tempo de trovoada
(enquanto dura) são capazes de me deprimir. Tenho, do passado, somente
saudades de pessoas idas, a quem amei; mas não é a saudade do tempo em
que as amei, mas a saudade d'ellas: queria-as vivas hoje, e com a idade
que hoje tivessem, se até hoje tivessem vivido. O mais são attitudes
literárias, sentidas intensamente por instincto dramático, quer as assigne
Álvaro de Campos quer as assigne Fernando Pessoa. São sufficientemente
representadas, no tom e na verdade, por aquelle meu breve poema que
começa: «Ó sino da minha aldeia...».
O sino da minha aldeia, é o da Egreja dos Martyres, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o Largo de S. Carlos, hoje do Directório, e a casa em que nasci foi aquella onde mais tarde (no segundo andar; eu nasci no quarto) haveria de installar-se o Directório Republicano. (Nota: a casa estava comndenada a ser notável, mas oxalá 4.º andar dê melhor resultado que o 2.º).
O sino da minha aldeia, é o da Egreja dos Martyres, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o Largo de S. Carlos, hoje do Directório, e a casa em que nasci foi aquella onde mais tarde (no segundo andar; eu nasci no quarto) haveria de installar-se o Directório Republicano. (Nota: a casa estava comndenada a ser notável, mas oxalá 4.º andar dê melhor resultado que o 2.º).
Gostei muito de ler esta carta.
ResponderEliminarBeijinhos. :)
Um mundo maravilhoso que apresenta mas...
ResponderEliminarBeijinhos.
Interessante!
ResponderEliminarAna, nesta carta, Fernando Pessoa é muito ele! Aliás, como era sempre...
ResponderEliminarCom um conhecimento muito lúcido dele mesmo!
Esta é uma das características que mais admiro nele...
Um beijinho.:))
Isabel, achei esta carta curiosa...
ResponderEliminarQuase parece a página dum diário!
Beijinhos.:))
Um brincalhão este Pessoa, como sempre, com estas suas voltas de gato e rato com o real e a imaginação. Obrigado pela divulgação Cláudia!
ResponderEliminarNuno Meireles, sei que é um admirador de Pessoa. Aliás, já tive o privilégio de o ouvir declamar...:))
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