(daqui)
Coimbra, 30 de Janeiro de 1950 - É duro atravessar a vida nesta situação de expatriado na própria terra. Porque a pátria não é a rua onde se encontram indivíduos que falam uma língua que eu entendo. É uma comparticipação íntima nos pensamentos e obras desses mesmos indivíduos, que nunca tive e julgo que nunca terei.
in Diário V, 1974, p. 72.
DENÚNCIA
Acuso-te, Destino!
A própria abelha às vezes se alimenta
Do mel que fabricou...
E eu leio o que escrevi
Como um notário um testamento alheio.
Esvazio o coração, cuido que me exprimi,
E vou a olhar o poço, e ele continua cheio!
Acuso-te e protesto.
É manifesto
Que existe malvadez ou má vontade!
Com a mais humilíssima humildade,
Requeiro, peço, imploro...
Mas trago às costas esta maldição
De sofrer com razão ou sem razão,
E de não ter alívio nas lágrimas que choro!
in Penas do Purgatório, 1976, pp. 32-33.
Miguel (por Cervantes e Unamuno) Torga (pelas urzes ou torgas) é um dos meus escritores. Se não li tudo dele, andei lá perto.
ResponderEliminarFoi por ele que subi a São Leonardo da Galafura, uma dos mais espantosas vistas sobre o rio Douro, para ler o poema gravado na pedra.
Já não deu para ir ver o negrilho, tinha de regressar a CB.
Sábado feliz, Cláudia!🌻
A justificação para Adolfo Rocha ter adoptado o nome de Miguel Torga, é mesmo essa! Também já li algumas obras do autor, mas não tantas assim. Muitas mais ainda estão por ler.
EliminarNunca fui a São Leonardo da Galafura, mas gostava de lá ir um dia.
Um abraço e boa semana. 🌷
😁Bom fim de semana!
ResponderEliminarMR,
EliminarBom dia e boa semana! 🌻
No simbólico contexto desta efeméride, não será despropositado recordar uma brevíssima e curiosa passagem de Miguel TORGA (in, "CARTAS"), claramente reveladora do íntegro Cidadão e admirável Autor, cuja obra está tão marcada pela vida do Povo trabalhador e heróico (de Trás-os-Montes, por exemplo): "(...) o verdadeiro civismo consiste mais numa serena consciência cultural do que numa paixão telúrica. (...) Continuamos a tirar a justificação vital do magro chão onde nascemos e do calor humano que damos ao resto da ninhada. Que se sai de Portugal e se encontra lá fora algum português desterrado [exilado...], é uma aflição verificar que não é com os olhos do entendimento que ele namora isto. (...) Em Paris, um cientista de mérito que ali encontrei, em vez de tentar erguer a fama deste pobre País com uma obra que talvez estivesse nas suas possibilidades, gemia como uma videira a falar do luar de Coimbra, e até sentia saudades de um lente cujo nome nem tenho coragem de escrever! / Não há maneira! Com oitocentos anos de vida, (...) permanecemos (...) ainda agarrados às saias da mãe, com os nossos mitos familiares - a Virgem Maria, o Menino Jesus, S. José -, figurações transportas do núcleo caseiro de onde nunca nos libertámos." A todo(a)s, uma excelente semana torguiana e bibliófila!
ResponderEliminarCaro Fernando Firmino,
EliminarMiguel Torga tinha grande conhecimento da vida dura, de trabalho e sacrifícios, de quem vivia da terra em Trás-os-Montes. Pois calcorreava montes e vales a pé.
Era a sua maneira de sentir e comunicar com os locais. Penso que não tanto com as gentes (penso...).
Quanto às mentalidades, aos poucos estão a mudar. Mas leva o seu tempo!
Boa semana!