O Porto
O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a insurreição do olhar.
O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos dos velhos, que a certas horas atravessam a rua para passarem os dias no café em frente, os olhos vazios, as lágrimas todas das crianças de S. Vítor correndo nos sulcos da sua melancolia.
O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, aproximando-me assim cada vez mais da restolhada matinal dos pardais, esses velhacos que, por muito que se afastem, regressam sempre à minha mão.
Desentendido da cidade, olho na palma da mão os resíduos da juventude, e dessa paixão sem regra deixarei que uma pétala poise aqui, por ser de cal.
1979
in Eugénio de Andrade, O amigo mais íntimo do sol, 1998, p. 95.
É uma bela fotobiografia, com uma das minhas fotografias preferidas na capa.
ResponderEliminarDia feliz, Cláudia!
🌞
Concordo plenamente! É uma bonita e boa fotobiografia. Com muita informação e fotografias.
EliminarAgradeço e retribuo os votos de um dia feliz! 🌹
Tenho de ler este texto do E. de A. O Jardim de São Lázaro é muito meu conhecido.
ResponderEliminarBoa noite!
Este jardim, localiza-se muito perto da rua e casa onde morou Eugénio de Andrade. É muito bonito, com magnólias magníficas e está sempre muito bem cuidado!
EliminarBom dia, MR!
Infelizmente nunca me passou pelo olhar.
ResponderEliminarNão está disponível na Lumière. Cláudia ?
Beijo amigo.
Está, sim senhor, João Menéres!
EliminarVou reservar-lhe um exemplar.
Um beijinho e um bom dia!