26/08/22

Ana Luísa Amaral (1956-2022)
 

Minha Senhora de Quê

Dona de quê
se na paisagem onde se projectam
pequenas asas     deslumbrantes folhas
nem eu me projectei

se os versos apressados
me nascem sempre urgentes:
trabalhos de permeio       refeições
doendo a consciência inusitada

dona de mim nem sou
se sintaxes trocadas
o mais das vezes nem minha intenção
se sentidos diversos       ocultados
nem do oculto nascem
(poética do Hades quem me dera!)

Dona de nada       senhora nem
de mim: imitações de medo
os meus infernos

Amaral, Ana Luísa, Minha Senhora de Quê. Coimbra, Fora do Texto, 1990, p. 59

Nota: No dia em que tem início a edição da Feira do Livro do Porto, e que a homenageada é a poeta Ana Luísa Amaral.

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