Os Livros
Não ha n'este mundo cousa alguma de
mais suavidade para a minha vida do que os livros. Consoladores, mansos
companheiros, é a alegria tel-os a meu lado, folheal-os, manuseal-os,
vêl-os simplesmente; são necessidade para o espirito e, direi, quasi
necessidade para os meus sentidos. Casa onde não os veja, está
incompleta; dia em que não os leio, foi da maior fadiga. Ficou-me a
sensação de falta essencial, exactamente como se tivésse soffrido fome
ou sêde.
Depois, sou glutão. Quero muitos; quero, ao sabor do
meu capricho, ter sempre á mão, ou uma obra de arte, ou um livro de
sciencia, ou de história, ou de viagens, moralistas, romancistas, ou
ainda mesmo puras bagatellas. Ha dias em que a Historia natural para
creanças, de Prang, e as Aventuras do barão de Munckhausen me interessam
tanto como Tolstoi, Ruskin ou os mais deliciosos chronistas
portuguezes. Tudo depende da inclinação momentanea.
Ás vezes,
porém, considero se isto não será vicio, talvez nocivo, contra o qual
devo acautelar os estranhos, já que de mim não cuido, por me julgar
incorrigivel....
Lima, Jayme de Magalhães, Vozes do meu lar. Coimbra, Typ. França Amado, 1902,
p. 21-22.
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